Alguns alunos do ensino médio vieram a mim para questionar um outdoor,
que celebrava o Dia dos Namorados com os dizeres “Te amo!”. Para eles, o
questionamento se baseava na afirmativa de que no início de frases, ocorre
ênclise (quando o pronome é posto depois do verbo), e não próclise (quando o
pronome é posto antes do verbo), portanto a frase, segundo os discentes, que deveria
ser estampada seria “Amo-te”.
Tal proposição está correta, se levarmos em conta a gramática normativa,
ou seja, a norma culta. No entanto, meus pupilos não se atentaram ao fato de
que o texto em questão pertence ao discurso publicitário. E, como
tal, costuma ter uma
linguagem bem flexível,
ao evocar a estilística e/ou a pragmática, e muitas vezes pode não se enquadrar nas regras gramaticais normativas.
A construção sintática do texto (“Te amo”) está em consonância com os objetivos que a campanha
publicitária pretende alcançar. Como, por exemplo, atingir determinado público
no Brasil, que pertença à classe média. Não é difícil constatar que há a esmagadora
parcela da população brasileira que diz o tão popular “Eu te amo”, ao invés de
um puritano “Amo-te”. Então, trocando em miúdos, não cabe enxergar, nesse caso,
um erro gramatical, mas há, sim, um recurso próprio do discurso publicitário.