Não se pode negar que o advento
estruturalista no século 20 tenha contribuído para trazer à tona questões referentes
ao fenômeno linguístico de modo geral. O estruturalismo serviu para mudar as
concepções sobre língua/linguagem vigentes até então, além de impulsionar os
estudos linguísticos. O ponto de partida foi uma concepção de língua (langue)
como um sistema de regras passíveis de descrição, enquanto as manifestações individuais
da fala (parole) foram descartadas, conforme mencionado anteriormente.
Já o linguista Noam Chomsky, que se
distanciou do estruturalismo, entre outras razões, por pleitear uma análise
linguística que considerava a existência de um nível “profundo” da estrutura
gramatical, subjacente ao nível “superficial”, tem em comum com Saussure o fato
de defender uma teoria a partir de um elemento “abstrato”, “universalista”,
“sistêmico” e “formal”, como escrever Weedwood. A teoria linguística adotada
por Chomsky tem um caráter mentalista, conforme explicado a seguir:
As propostas de Chomsky visavam
descobrir as realidades mentais subjacentes ao modo como as pessoas usam a
língua(gem): a competência é vista como um aspecto de nossa capacidade
psicológica geral. Assim, a linguística foi encarada como uma disciplina mentalista
– uma visão que contrastava com o viés behaviorista da linguística feita na
primeira metade do século 20, descreve Weedwoos.
Note que na citação de Weedwood aparece
a palavra língua(gem), por tratar-se de uma tradução do inglês. O termo mereceu a seguinte
explicação do tradutor Marcos Bagno: “Como o inglês só dispõe da palavra
language para se referir tanto à linguagem (capacidade humana de se comunicar
por meio da fala e da escrita) quanto à língua (sistema linguístico particular,
idioma), traduziremos o termo inglês ora por ‘língua’, ora por ‘linguagem’ e,
eventualmente, por ‘língua(gem)’ quando ambas as noções estiverem, a nosso ver,
contempladas no discurso da autora.
As perspectivas de Saussure e de
Chomsky associam a linguística a outras áreas: a língua – sistema linguístico
socializado – de Saussure aproxima a linguística da sociologia ou da psicologia
social; a competência – conhecimento linguístico internalizado – aproxima a
linguística da psicologia cognitiva ou da biologia, defende Petter.
Contudo, as concepções sobre linguagem
foram se desenvolvendo e ganhando maior abrangência no tocante a tentar
explicar os diversos aspectos que integram os fenômenos linguísticos e
interagem com eles, bem como a dar conta desses aspectos. Podemos observar como
aspectos extralinguísticos foram incluídos nas análises linguísticas provenientes
da sociolinguística que passaram a se interessar pela interação entre linguagem
e sociedade.
Na sequência apresentaremos
perspectivas linguísticas mais recentes, que também tendem a enfocar fatores
extralinguísticos relacionados à linguagem.