Consumo da água em Jussiape: 4 perguntas que merecem resposta
A
bactéria Escherichia coli
Os históricos desagrados causados pela Empresa Baiana de
Águas e Saneamento (Embasa) ao município e, consequentemente, os enfrentamentos
entre a gestão municipal e a concessionária, que muitas vezes acabam sendo um
tanto controversos, podem estar longe de chegar ao fim. Com o contrato previsto
para vencer em 2019, o município deverá decidir se a Embasa continuará prestando
serviço à população ou se outro
modelo de gestão da água será adotado.
Após o episódio polêmico vivido pelo vereador Edilando
Brandão (MDB) repercutir nas redes sociais, ao comentar que a população em
Jussiape estaria “bebendo bosta” e repetido, em plenária, pelo colega de
bancada José Roberto (MDB), outros questionamentos foram desencadeados ao ser
constatado que, em uma análise da água feita em dezembro de 2017, houve contaminação.
A Jussi Up reuniu perguntas inquietantes
e respostas ainda mais surpreendentes sobre a água utilizada em Jussiape tanto para
a irrigação quanto para o consumo humano; veja:
ESTAMOS MESMO BEBENDO BOSTA?
De acordo com o laudo divulgado da análise da água consumida
no município, realizada pelo laboratório da Base Regional da Saúde de Brumado, em
dezembro de 2017, não apresentou indicadores de coliformes fecais. Ou seja, em
termos populares, nós não estamos “bebendo bosta”, como havia afirmado o
vereador Edilando Brandão (MDB). É o que explica o coordenador da Vigilância
Sanitária de Jussiape, Renato Carvalho, ao afirmar que o resultado das amostragens
constou a presença de coliformes totais, e não de coliformes fecais. No
entanto, apesar de não ser um resultado satisfatório, o coordenador da
Vigilância Sanitária afirmou que nas análises da água dos meses subsequentes
não houve mais contaminação.
NOSSO RIO É SUJO?
Sim, é. E muito! Entre os anos de 2013 e 2014, na
gestão do ex-prefeito Gilberto Freitas, houve uma tímida tentativa da Prefeitura
de Jussiape em tentar despoluir trechos do Rio das Contas. Uma campanha bem
intencionada foi veiculada nos meios de comunicação, mas o projeto não foi
adiante. O problema é bem maior do que todos nós podemos imaginar, pois a maior
parte do esgoto da cidade é lançada diretamente no rio sem nenhum tipo de
tratamento. Uma nova rede de saneamento, que custaria aos cofres públicos a
bagatela de milhões de reais, seria a solução. No entanto, se torna
praticamente inviável no atual contexto, pois dependeria dos esforços de vários
políticos da esfera municipal, estadual e até federal. Mas, até nos vermos
livres de toda a poluição que muda o cenário do meio ambiente em Jussiape, nada
impede de cogitarmos diversas alternativas para mudar a realidade do nosso rio.
HÁ RISCO DE CÂNCER NA ÁGUA POR CAUSA DOS AGROTÓXICOS?
Até então é praticamente impossível de responder a essa
pergunta com exatidão. Pois, pelo que se sabe, até o momento nenhuma análise físico-química
da água do Contas foi realizada, após as culturas de manga e maracujá se
estabelecerem às margens do rio. O coordenador da Vigilância Sanitária de
Jussiape, Renato Carvalho, explica que o órgão em questão não realiza a análise
de metais pesados – o que seria o mais indicado para medir se há algum risco de
câncer no consumo da água. No entanto, como medida cautelar, nada impede de que
o município providencie uma análise mais detalhada da água que é consumida em
Jussiape.
A CULTURA DE MARACUJÁ É UMA AMEAÇA A NOSSA ÁGUA?
A depender de como o cultivo utiliza os recursos
minerais do município, sim, pode ser uma ameaça a nossa água. No entanto, não
apenas o cultivo do maracujá pode ameaçar o Contas, mas o da manga ou qualquer
outro que utilize agrotóxico de forma demasiada e sem controle; ou ainda sistema
de irrigação que não economize água. Além disso, a maioria das plantações é
feita às margens do Rio das Contas, não respeitando os limites de
distanciamento da margem estabelecido por lei, explica Suzana Caires,
ex-diretora de Meio Ambiente de Jussiape.
AGROTÓXICO MATA!
O alerta veio de um evento promovido pela Secretaria
de Agricultura de Jussiape, em 2014, que contou com a participação do fiscal
estadual da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), Weber Aguiar. O funcionário
da Adab alertou para os riscos à vida humana e as consequências que podem
atingir o meio ambiente pelo uso indevido do agrotóxico.
Apesar de existirem leis específicas que regulamentam
a venda e o uso de agrotóxicos, autoridades do estado da Bahia reconhecem que existem
falhas na fiscalização. A falta de cuidados na aplicação do agrotóxico pode trazer
sérios danos à saúde, como o câncer e comprometimento na gestação. O que não
pode ser esquecido também é que os produtos cultivados com agrotóxicos levam o
mal do veneno para o organismo, transformando o corpo em uma bomba relógio.
Portanto, saiba o que você consome na hora do almoço.
A avaliação acima partiu da Secretaria de Agricultura
de Jussiape que, à época, viu na expansão da monocultura um cenário que tem
piorado e muito, já que os produtores não possuem um controle da retirada da
água do rio que corta boa parte da região, incluindo o próprio município. É
possível que em um futuro não muito distante, nossa realidade possa ficar muito
próxima a de nossos vizinhos, tudo isso em nome do agronegócio.