Na Câmara, Edilando Brandão pede ‘momento de silêncio’ por Marielle Franco
O vereador Edilando Brandão (MDB) Foto: Will
Assunção/JUP
Antes de iniciar o discurso na sessão plenária desta sexta-feira
(16), o vereador Edilando Brandão (MDB) pediu um momento de silêncio em
homenagem à vereadora do PSOL Marielle Franco e ao seu motorista Anderson Pedro
Gomes, executados na noite da última quarta-feira (14), no Rio de Janeiro.
O único vereador a comentar a tragédia de forma
fulcral, o emedebista lamentou que Marielle, a qual chamou de “colega”, tenha
sido a mais recente vítima de “um país desacreditado”.
Marielle morreu “porque tentava fazer justiça”, defendeu
Brandão.
Marielle era socióloga, nascida e criada no complexo
de favelas da Maré e trabalhou com o deputado estadual do PSOL Marcelo Freixo.
Foi a quinta vereadora mais votada no Rio de Janeiro.
CRIME
A vereadora Marielle Franco, 38, foi morta na noite de
quarta (14) na rua Joaquim Palhares, no Estácio, zona norte do Rio.
Ela e o motorista do carro em que estavam foram
baleados e ambos morreram. Uma assessora que a acompanhava sobreviveu.
De acordo com os investigadores, o carro de Marielle
foi seguido pelos dois veículos desde a saída da socióloga da Casa das Pretas,
na rua dos Inválidos, na Lapa, centro do Rio.
O local foi o último em que a vereadora passou antes
de ser morta com quatro tiros na cabeça. Ela participava de um debate.
De dois a três veículos, segundo os investigadores,
participaram do crime. Os dois primeiros que trocaram sinais de farol e talvez
um terceiro que emparelhou com o carro da vereadora no momento do assassinato.
A polícia, porém, desconfia que um dos primeiros carros a segui-la possa ser o
que emparelhou depois, mas essa confirmação depende ainda de novas análises de
câmeras de rua.
Segundo imagens de câmeras de segurança da região,
dois homens ficaram mais de duas horas no carro aguardando a saída socióloga. O
veículo dos suspeitos estava estacionado atrás do usado pela vereadora.
A vereadora foi morta quando um carro emparelhou com o
seu e disparou 13 tiros.
O percurso da Casa das Pretas até o local do crime foi
de cerca de 4 km. Nesta sexta, os policiais voltaram a fazer o trajeto.
Marielle estava em um carro de vidro escuro, no banco de
trás, do lado direito do veículo, onde se concentraram a maior parte dos
disparos.
Por causa da dinâmica usada pelos criminosos na morte
de Marielle, a principal hipótese dos investigadores é de crime premeditado.
A vereadora era aliada do deputado estadual Marcelo
Freixo (PSOL), que ficou em segundo lugar na eleição para prefeito do Rio.
Freixo e correligionários compareceram ao local do crime. O deputado disse que
todas as características indicam ter se tratado de uma execução e que vai
cobrar providências.
A terceira ocupante do carro, sua assessora de
imprensa, prestou depoimento à Delegacia de Homicídios. Ela foi ferida por
estilhaços.
Na Câmara, Marielle presidia a Comissão da Mulher e,
no mês passado, foi nomeada relatora da comissão que acompanhará a
intervenção federal na segurança pública do Rio.
O vereador Tarcísio Motta (PSOL-RJ), colega muito
próximo de Marielle, afirmou que o acompanhamento da intervenção ainda era
muito incipiente. No momento, acompanhavam denúncias sobre a atuação da
prefeitura na Vila Kennedy, favela na zona oeste do Rio que foi escolhida como
laboratório da intervenção. Na última sexta-feira (9), uma ação de choque de
ordem na favela destruiu quiosques de comerciantes e provocou a revolta de
moradores.
Marielle era contra a ação. No mês passado, ela disse
que a intervenção federal era uma farsa. “E não é conversa de hashtag. É farsa
mesmo. Tem a ver com a imagem da cúpula da segurança pública, com a salvação do
PMDB, tem relação com a indústria do armamentismo”, afirmou.
No dia 10, ela publicou um texto em suas redes sociais
denunciando abusos do 41º batalhão da PM contra moradores da favela de Acari.
“Nessa semana dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje a polícia
andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a
intervenção ficou ainda pior”, dizia um trecho.
O 41º batalhão é historicamente um dos que mais
registrou mortes em decorrência de oposição à intervenção policial. Foi lá que
Maria Eduarda da Conceição, 13, foi morta a tiros em frente à escola onde
estudava, em março de 2017.