O ato de uma estadista e o jornalismo em Jussiape como um exercício da solidão
A vereadora pelo PRP Vanusa Medrado Foto: Will
Assunção/JUP
É sempre uma tarefa delicada redigir uma matéria sobre
possíveis escândalos na política em Jussiape, embora a Jussi Up Press possua um
público diversificado. O nosso leitor dispõe de um repertório intelectual vasto
e uma bagagem cultural ampla, o que evidencia sua aptidão a interpretar os
fatos como realmente são.
Na última sessão plenária da Câmara de Vereadores de
Jussiape, na sexta-feira (15), a vereadora pelo PRP Vanusa Medrado utilizou o
plenário da Câmara para exercer a sua posição de estadista como defensora da
democracia – posto incólume e louvável de representantes do estado de direito.
A parlamentar não apenas foi, incontestavelmente, lúcida.
Mas demonstrou bravura ao defender, em plenária, princípios democráticos ao
atestar profunda sensibilidade e conhecimento sobre o exercício do jornalismo,
sobretudo, o que tangue o sigilo de fontes. Ainda que uma fonte tenha, presumivelmente,
maculado uma situação em que ela estivesse inserida, a vereadora agiu com
serenidade, inteligência e apreço à democracia, ao considerar a relevância da
atividade jornalística.
É bem possível que nem mesmo ela, nem os seis
parlamentares presentes na sessão, tenha percebido de imediato o quanto seu
breve discurso ecoou de forma consistente e corajosa ao legitimar a importância
muito esquecida do papel da imprensa. O jornalismo, como última profissão
romântica, ofício órfão, exige coragem diante das trincheiras do poder. É a
busca incessante por um heroísmo já desbotado pela banalidade atribulada do
pós-modernismo. Cobrir política não é o lado mais empolgante do jornalismo.
Explicar contenciosos acontecimentos e, sobretudo, não alimentar rancores é
missão muito mais heroica. E apenas jornalistas podem desempenhá-la com afinco.
O artigo 5º da Constituição Federal determina, em seu
inciso 14, que “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o
sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”. Trata-se de um
dispositivo bastante usado por jornalistas a fim de preservar quem repassa
informações em “off”, jargão de quando a fonte de informação não quer ser
identificada.
Na coluna #assuntasó, sobre os rumores de táticas adotadas pelo prefeito para conter ataques da oposição, assinada por mim, houve, sim, uma
discussão na redação para decidir se optaríamos em utilizar esse recurso, ou
não. Em 8 anos de profissão, 7 cobrindo os bastidores da política, é possível ter
adquirido experiência suficiente para que o seu instinto valha de alguma coisa.
Eu via que, se não fosse dessa maneira, eu não poderia estruturar a matéria
como ela saiu. Não teria como contar algumas coisas. Eu também não acho a
melhor das estratégias. Mas foi necessário.
Algumas pessoas podem dizer que dessa forma se torna
fácil apurar. Não é fácil. Para colocar um “off”, mesmo fora das aspas, o
repórter precisa garantir ao editor que outras fontes foram checadas, e se a afirmação
possui procedência, se faz o menor sentido, ainda que soe absurdo. Apenas como
comparativo, eu trago o exemplo do New York Times, que se utiliza disso, o que é
totalmente possível no jornalismo. E está certo. Mas é óbvio que eu acho muito
melhor quando a gente pode pautar as coisas em “on”.
A vereadora Vanusa Medrado agiu com grandeza. Não apelou
ao discurso do ódio gratuito, tão presente em tempos em que atacar é mais fácil
que tentar entender, tampouco apelou ao senso comum; mas optou pela destreza
racional. Legitimou o mérito do jornalismo, como faria qualquer porta-voz dos
ideais democráticos. O verdadeiro estadista não é pautado, pauta-se. O jornalismo
agradece, o jornalismo deve a Vanusa Medrado.